Título:
A Anatomia de Uma Dor
Autor: C. S. Lewis
Páginas: 91
Editora: Vida
Ano : 1961
Classificação: 5/5
Sinopse: Neste relato tocante, C. S. Lewis mostra seu lado sombrio e amargo, até então desconhecido dos leitores. Apesar de ter escrito anteriormente sobre o sofrimento, é neste livro pungente que suas emoções são colocadas à mostra. Com grande intensidade e sofrimento, o escritor revela seu sentimento de indignação após a perda de sua amada. Até descobrir algo... Deus certamente não estava fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor para provar sua qualidade. Ele já os conhecia muito bem. Eu é que não. Nesse julgamento, ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Ele sempre soube que meu templo era um castelo de cartas. A única forma de fazer-me compreender o fato foi colocá-lo abaixo.
Você
já passou pela experiência de querer expressar determinados sentimentos, mas
não conseguir colocar em palavras? Aposto que sim. E já lhe aconteceu de um dia
encontrar esses sentimentos expressos por outra pessoa e captando exatamente o
que vai no seu coração? Tenho quase certeza que sim. Então... Comigo isso
aconteceu algumas vezes e acredito que a sensação que tal fato gera, tanto em
mim quanto nas demais pessoas, é a de identificação. De repente, deixamos de
nos sentir sozinhos e percebemos que há pessoas que entendem o que estamos
sentindo. Ver esses sentimentos expressos em palavras nos faz, inclusive, saber
lidar melhor com eles, já que agora podemos falar dos mesmos para outras
pessoas, para Deus e até para nós.
É sobre
isso que se trata o livro A anatomia de
uma Dor, de C. S. Lewis. O célebre autor cristão escreve esta obra em meio
a dor de perder sua esposa, Helen Joy Davidman, vítima de um câncer.
Diferentemente de seus outros livros teológicos, nos quais predominam um estilo
argumentativo, lógico e analítico, este livro é um desabafo, uma descrição
ampla e profunda dos sentimentos do autor. Foi escrito ao estilo de um diário,
embora não com esta periodicidade, e esboça exatamente aquilo que o título da obra
sugere: a anatomia de uma dor. Ali, a dor de Lewis é esmiuçada, exposta,
descrita, estudada e, sobretudo, gritada. Lewis se dá à liberdade de escrever
ali exatamente o que sentia, incluindo no relato seus questionamentos a Deus,
sua confusão mental, seus momentos de raiva, sua fragilidade emocional, seus
altos e baixos, seus pecados, suas tentativas de se reerguer, seus medos, sua
solidão.
Um
trecho interessante que capta o que estou dizendo é quando Lewis fala sobre
como a bondade de Deus muitas vezes implicará, neste mundo mal, a continuidade
de um sofrimento para um bem maior. E isso, C. S. Lewis, reconhece, causa medo
quando estamos em meio à dor. Ele expressa:
A coisa terrível é que um Deus perfeitamente bom seja... dificilmente menos formidável do que um Sádico Cósmico. Quanto mais cremos que Deus fere somente para curar, menos nós cremos que haja qualquer utilidade em mendigar ternura. Um homem cruel poderia ser subornado – poderia crescer cansado de seu vil esporte – poderia ter um acesso temporário de misericórdia, como os alcoólicos poderiam ter um acesso de sobriedade. Mas suponha que aquilo que está diante de você é um cirurgião cujas intenções são totalmente boas. Quanto mais amável e mais consciente ele é, mais inexorável ele vai cortando. Se ele fizesse concessão a seus rogos, se ele parasse antes que a operação fosse completada, toda a dor até aquela altura teria sido inútil.
O
livro chama a atenção pela intensidade e sinceridade do autor. Não existe ali
preocupação em esconder sua condição humana e deixar claro como é difícil
suportar a dor de perder a pessoa que amava. Em determinados pontos do livro há
palavras duras e, se trechos forem lidos fora do contexto mais amplo do livro,
podem dar a intenção de que Lewis era um revoltado com Deus. Contudo, ao fazer
a leitura de forma completa, considerando que ela expressa o sofrimento de
Lewis ao longo dos meses, entendemos que o autor apenas descreve um processo de
luto, algo pelo qual todos nós passamos.
O
ponto a ser ressaltado é que mesmo em meio à dor e aos questionamentos, o
escritor não se desfaz de Deus. A
Anatomia de uma Dor nos faz, de certa forma, lembrar o livro de Jó, as
lamentações de Jeremias, os Salmos dramáticos do Rei Davi. Todos estes
expressaram a dor com palavras desesperadas e também afirmaram muitas vezes não
compreenderem os desígnios de Deus. Mas apesar disso, não deixaram de crer em
Deus e reverenciá-lo como tal. E é isso que vemos na obra de Lewis.
A Anatomia de uma Dor é
um livro curto, que pode ser lido em um ou dois dias, mas que nos traz
reflexões para toda uma vida. Sofremos juntamente com Lewis durante a leitura,
nos abraçamos lembrando os nossos pesares e, por fim, depositamos nossas
esperanças em Deus. Indico fortemente o livro, tanto para quem já está
familiarizado com as obras de teor mais lógico de Lewis, quanto para quem nunca
leu nada dele. O desabafo de Lewis nos traz muitas lições importantes.
Gostei da resenha! Tenho vontade de ler um dia... Embora seja um livro muito triste e intenso, deve ser de grande ajuda para quem está ou um dia estará em luto (ou seja, todos nós).
ResponderExcluirsonhos-e-suspiros.blogspot.com.br