Resenha: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu


 

Título: NãoTenho Fé Suficiente Para Ser Ateu
Autor: Frank Turek e Norman Geisler
Páginas: 422
Editora: Vida
Ano : 2006 
Classificação: 5/5

Sinopse: Ideias com o objetivo de destruir a fé cristã sempre bombardeiam os alunos do ensino médio e das universidades. Este livro serve como um antídoto excepcionalmente bom para refutar tais premissas falsas. Ele traz informações consistentes para combater os ataques violentos das ideologias seculares que afirmam que a ciência, a filosofia e os estudos bíblicos são inimigos da fé cristã. Antes de tocar a questão da verdade do cristianismo, essa obra aborda a questão da própria verdade, provando a existência da verdade absoluta. Os autores desmontam as afirmações do relativismo moral e da pós-modernidade, resultando em uma valiosa contribuição aos escritos contemporâneos da apologética cristã. Geisler e Turek prepararam uma grande matriz de perguntas difíceis e responderam a todas com habilidade. Uma defesa lógica, racional e intelectual da fé cristã.

Não tenho fé suficiente para ser ateu é um daqueles raros livros que consegue ser simples e amplo, básico e denso ao mesmo tempo. Escrito sob medida para aqueles que estão iniciando uma trajetória em busca de evidências para a existência de Deus (e/ou os pilares da fé cristã), a obra aborda com linguagem fácil os principais argumentos lógicos que sustentam a crença em Deus, partindo das questões mais gerais às mais especificas, além de rebater os contra-argumentos mais comuns dos ateus. Com o acúmulo de evidências a favor de Deus, o final de cada capítulo torna mais óbvio a razão pela qual seus autores não possuem fé suficiente para serem ateus.

A leitura da obra desmonta preconceitos contra a fé e surpreende o leitor que desconhece esse ramo de estudo mudando a sua visão de mundo: ele percebe que a crença em Deus, no cristianismo e na Bíblia não apenas são plausíveis, mas extremamente racionais, tornando a descrença um posicionamento que exige muito mais fé do indivíduo que a abraça.

Um ponto muito interessante do livro, dentre tantos, é que ele também dá ao leitor ferramentas para reconhecer argumentos que não fazem sentido. Isso é de especial valor para os cristãos, que muita vezes, por falta de conhecimento, se deixam enredar por argumentação falaciosa, isto é, sem sentido, que possuem falhas em sua formulação. A sutilidade de alguns discursos falaciosos comumente faz cristãos despreparados colocarem em dúvida a sua fé e aceitarem ideias cujo conteúdo lógico é ridículo. Uma das ferramentas de reconhecimento dada pelos autores é chamada de estratégia do "Papa-léguas" e consiste em mostrar que um argumento destrói a si mesmo, deixando o argumentador sem chão. O exemplo clássico é o dos relativistas da verdade. O relativista diz que não existe verdade. Devemos perguntar: "Mas isso é verdade?". Se ele diz que não, está negando a si mesmo. Se diz que sim, está contradizendo a própria ideia de que não existe verdade. A posição relativista é, portanto, sem sentido. Um trecho engraçado do livro conta uma experiência em que um dos autores (Norman) usou essa técnica na universidade. Norman precisou fazer uma apresentação sobre o chamado "princípio da verificabilidade empírica". Segundo este princípio, algo só pode ser verdade se for autoevidente ou se puder ser provado empiricamente (isto é, através de experiência). Transcrevo o trecho:
"No começo da aula seguinte, o professor disse:
— Sr. Geisler, ouviremos o senhor em primeiro lugar. Concentre-se em falar no máximo 20 minutos, de modo que possamos ter tempo suficiente para discussão.
Bem, uma vez que eu estava usando a tática veloz do Papa-léguas, simplesmente não tinha problema algum com a restrição do tempo. Levantei-me e simplesmente disse:
— O princípio da verificabilidade empírica afirma que só existem dois tipos de proposições válidas: 1) aquelas que são verdadeiras por definição e 2) aquelas que são verificáveis empiricamente. Uma vez que o princípio da verificabilidade empírica em si mesmo não é verdadeiro por definição nem pode ser verificado empiricamente, ele não tem sentido.
Falei isso e me sentei.
Havia um silêncio mortal na sala. A maioria dos alunos conseguia ver o Coiote flutuando no ar. Reconheceram que o princípio da verificabilidade empírica não podia ter sentido baseado em seu próprio padrão. Ele autodestruiu-se no meio do ar! Era apenas a segunda aula daquele curso, e o fundamento de todo aquele programa fora destruído! O que mais o professor falaria nas 14 semanas seguintes?
Vou lhe dizer o que ele falou. Em vez de admitir que sua aula e toda a sua perspectiva filosófica eram falsas em si mesmas, o professor suprimiu essa verdade, tossiu, falou sem parar e passou a suspeitar que eu estava por trás de tudo o que dava errado para ele durante todo o semestre. Sua fidelidade ao princípio da verificabilidade empírica — apesar de sua falha óbvia — era claramente uma questão de disposição, e não de pensamento".
Para quem já possui algum conhecimento na área da apologética (defesa da fé por meio de argumentos racionais), informo que o livro fala sobre o argumento cosmológico, o teleológico, o moral, aponta as falhas do pensamento naturalista, pincela sobre a questão dos milagres e apresenta um arsenal de evidências históricas que sustentam a veracidade da Bíblia, bem como a existência e messianidade de Jesus. É, no entanto, um livro de ponto de partida. Ele abre as portas para um mergulho mais aprofundado futuramente em cada uma das questões expostas. Costumo a indicá-lo como primeiro livro para quem está começando na apologética, seguido de "Cristianismo Puro e Simples", de C. S. Lewis, já resenhado aqui no OL. 

Os pontos positivos do livro são muitos, mas existem ressalvas. Os autores (Norman Geisler e Frank Turek) defendem o domingo como dia de guarda, a concepção imortalista de alma e a ideia de um inferno como lugar de tormento eterno. O Oasis Literário não comunga destas crenças e por boas razões. Acreditamos que elas não são bíblicas, nem lógicas, embora venham sendo seguidas há tanto tempo. Há muitos livros de grande qualidade que explicam melhor sobre estas questões. Entre eles menciono a obra "Crenças Populares", de Samuele Bacchiocchi, a qual devemos resenhar em breve. No geral, entretanto, "Não tenho fé suficiente para ser ateu" é uma ótima pedida e eu recomendo muito. 



2 comentários:

  1. "defendem o domingo como dia de guarda, a concepção imortalista de alma e a ideia de um inferno como lugar de tormento eterno."

    Por que discordam? No que acreditam?

    grato.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, amigo.

      Peço perdão pela demora em responder seu comentário. Ando com o tempo bastante apertado. Darei uma resposta curta. Caso queira saber mais, podemos ir conversando por aqui.

      Entendemos que a Bíblia não defende esses conceitos. O dia santo de descanso na Bíblia é sempre o sábado. Nada é dito em relação à santidade do domingo. Sobre o estado dos mortos, a Bíblia é enfática, em diversas passagens, ao afirmar que o ser humano, quando morre, fica em um estado inconsciente. Ele morre de fato e só recobrará a vida e, por conseguinte, a consciência, quando Jesus ressuscitar os mortos. De modo semelhante, a ideia de tormento eterno é estranha às Escrituras. As palavras comumente traduzidas como "inferno" significam apenas "sepultura", "cova" e "mundo inferior". Há a ideia de punição num lago de fogo, mas as expressões "eterno", "eternidade", "para sempre" e "pelos séculos dos séculos" estão todas associadas à palavras gregas e hebraicas (como aion e olam) que, quando aplicadas à coisas, por natureza, perecíveis, não possuem o sentido de eternidade, mas de constância enquanto a coisa existe. Exemplo: a palha queimará constantemente, sem parar, só até ainda existir palha. Quando ela acaba, também acaba o processo de queima.

      Abraços!

      Davi Caldas.

      Excluir

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial